quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Lagoa Real tem eleitor com menos de 16 anos


Pelo menos 20 eleitores, dos 9.441 cadastrados pela Justiça Eleitoral em Lagoa Real (731 km de Salvador) têm menos de 16 anos de idade, portanto inaptos a votar nas eleições de 5 de outubro para prefeito e vereador.

A suspeita de fraude, que pode alcançar mais de 150 títulos ilegais no município é reforçada a partir do alistamento irregular da estudante Renara de Jesus Carvalho, cuja mãe, Ana Terezinha de Jesus, denunciou ter sido aliciada e orientada a alterar a certidão de nascimento da filha.

O objetivo era obter antecipadamente o título de eleitor para favorecer o vereador João Rodrigues Dias, 53 anos, que disputa sua quarta eleição para o mesmo cargo pelo DEM. Em declaração à Justiça, a mãe da adolescente acusa diretamente o vereador, afirmando que ele teria se apoderado do registro de nascimento da filha.

Falsificação - Nascida em 5 de dezembro de 1992, a garota só estaria apta a exercer o direito de voto após o dia 5 de dezembro deste ano, porém uma falsificação grosseira alterou a data de nascimento para 5 de setembro daquele ano, o que resultou na emissão do título eleitoral inscrito sob nº 135715600515.

A mãe, que reside na Fazenda Tanque do Governo, zona rural de Caetité, a mais de 50 km de Lagoa Real, só procurou a Justiça quando o caso ganhou repercussão. Temendo ser presa e ter a filha apreendida, a lavradora foi orientada a devolver o título eleitoral e denunciar à promotoria.

O vereador acusado, que concorre pela coligação "Paz e dignidade", formada pelo DEM, PC d B e PTN, nega as acusações, porém em determinado trecho da entrevista acaba se traindo. "Até agora não sei de nada, ainda não fui ouvido e só ouço comentários. Ninguém prova nada, porque apenas levo essas pessoas para tirar título".

A menor de idade, estudante do ensino fundamental, contesta o candidato e afirma que ele esteve em sua casa para intermediar a aquisição do título.

"Ele pediu meu registro e minha mãe deu, então se houve isso aí que estão dizendo, pode ter sido culpa dele ou dele com o pessoal do cartório", esquiva-se.

Renara afirmou que não pensou duas vezes porque, segundo a estudante, somente com o título é que poderia solicitar seu cartão de CPF. "Eu ia votar nele mesmo, mas agora quero fazer a coisa do jeito certo. Quando tiver idade certa eu mesmo vou fazer o título". Indagada sobre outros motivos que teriam levado o vereador a procurá-la, a garota disse desconhecer, mas deixou escapar que a rede de energia elétrica que chega até sua casa foi providenciada graças a ele.

Este, aliás, foi o único "benefício" para a família, que vive numa casa sem reboco, de chão batido e sem água encanada ou potável e longe dos serviços de saúde. "A energia foi ′seo′ Joãozinho que trouxe", assegurou, enquanto folheava os livros escolares. Mesmo que estivesse apta a votar, ela só poderia exercer esse direito em seu domicílio eleitoral, que é Caetité.

Apuração - O caso está sendo apurado pelo promotor de Justiça da 63ª Zona Eleitoral, Jailson Trindade. O vereador João Rodrigues Dias (DEM) deve ser investigado por crime de corrupção eleitoral e falsificação e adulteração de documento público.

Trindade não quis gravar entrevista, alegando que só se pronunciará após a conclusão dos trabalhos, que consiste em ouvir a garota e outros menores de idade já identificados, pais e o acusado de aliciamento.
Jornal A TARDE:24/09/2008