terça-feira, 2 de junho de 2009

A Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), juntamente com a Cerb, Ima e Ingá, autarquias da secretaria, promove uma série de ações para comemorar

Como gerar menos lixo e salvar a Terra?


Como gerar menos lixo e salvar a Terra?


O problema da produção e do destino do lixo não é tão simples e superficial como pode parecer. Por isso, convidamos o filósofo e ecologista Marcelo Pelizzoli, para responder aos leitores algumas questões mais profundas sobre esse tema, que tanto inquieta a nossa consciência e sensibilidade.


Marcelo Pelizzoli,
filósofo, ecologista e professor na Universidade Federal de Pernambuco.
Endereço eletrônico: opelicano@gmail.com


Mundo Jovem: Que sociedade é essa, que gera tanto lixo?


Marcelo Pelizzoli: O lixo (resíduos) sempre existiu. Mas hoje mostra-se o elemento recalcado e ao mesmo tempo revelador do drama da humanidade. O drama da pobreza, por exemplo, revelado nos resíduos da subnutrição, vestígios da falta de uma série de vitaminas; o drama da riqueza e da lambança, com seus resíduos monstruosos; o drama da autodestruição da saúde. Tudo isso revela o drama da busca estonteante por sentido, por prazer, em objetos que se avolumam e se descartam (pois o desejo não tem fim).

Há uma angústia revelada no lixo, na sua mistura tóxica, no seu esquecimento. O lixo é nossa sombra - pessoas também tornam-se um pouco lixo. O lixo está na lógica da exclusão que adotamos. E como tudo o que é recalcado, ele retorna subrepticiamente em nossa água (o cocô que fazemos vai para a água e volta para nossa boca), em partículas no ar, em elementos dentro do leite, da carne, e alimentos em geral.

No lixo da classe média alta, principalmente da classe alta, em que o volume de resíduos chega a ser dez vezes maior do que da classe popular, está revelada a monstruosidade, a autodestrutividade de um modelo de vida. Há, ali, uma noção de ser humano. O que os seres humanos querem? O que estão buscando? O lixo é muito revelador disso. O consumo de coisas está aumentando consideravelmente e as pessoas ainda não estão felizes.

Mundo Jovem: Poderia ser diferente?

Marcelo Pelizzoli: Exige rever o sentido que damos à nossa vida, e o que alimenta nossa existência, nada menos. Bem, aí eu apelaria ao Dalai Lama que, em seu livro, Uma ética para o novo milênio, diz que o problema está ligado ao consumismo. Mas por que ao consumismo? Porque o consumismo está ligado a uma questão de como as pessoas escapam ao sofrimento, buscam a felicidade. Isso Aristóteles também dizia: "Todo o homem busca a felicidade". Agora, como? Apostando num tipo de desejo: que o desejo existencial de sentido à sua vida seja realizado com objetos. E aí, é claro, como os objetos não realizam, você precisa de um, dois, muitos objetos, coloridos, de todo tipo etc. E aí está o motor do capitalismo.

Fazer diferente seria buscar, ir às raízes, à condição existencial do humano. Como se poderia cultivar dimensões de felicidade, de emoções positivas, formas de organização social, que tragam mais realização, para que não se precise apelar tanto a uma completude objetal (um termo que a Psicanálise coloca). Quando a mentalidade da exclusão do outro, dos seres selvagens, dos insetos e bichos, exclusão do doente, do estranho, do sujo, quando essa emoção acabar, integraremos naturalmente o lixo, que é parte de nós.


Mundo Jovem: E a reciclagem do lixo?

Marcelo Pelizzoli: Quando se fala de lixo é preciso retomar o que muitos chamam de quatro erres, que já é clássico. O primeiro erre é Repensar. E eu acrescentaria junto com o repensar a dimensão mais importante ainda, que é Ressensibilizar, sensibilizar as pessoas, tocá-las afetivamente. A questão ecológica não é a questão verde, não é um ramo da Biologia. Esse repensar, ressensibilizar é o primeiro ponto, a raiz da coisa.

Depois a Redução, o Reaproveitamento e, por último, a Reciclagem. O nome lixo é um reducionismo para uma gama de materiais diferentes. Só de plástico, por exemplo, há dezenas de formas. O que é preciso dizer é que a reciclagem tem limites; depois de algumas vezes, muitos materiais já não suportam ser reciclados. O grande desafio é o que fazer com uma gama cada vez maior de equipamentos, baterias, pilhas. É preciso saber claramente que, quando compramos isso, estamos deixando a conta verdadeira para nossos filhos e netos. O problema não são as montanhas de lixo apenas, mas tudo o que está implicado nele enquanto consumo e poluição, exclusão social: dramas humanos por excelência.

Outro problema é como o lixo está dentro do nosso sangue. Novamente o exemplo do cocô na água. Essa mesma água é a que se bebe. Então, o lixo que a gente produz, está no nosso sangue. Ele vai para a terra, para o leite, para a carne. Ele é reprocessado, mas sempre sobra um tipo de molécula e resíduos químicos que voltam. Esse é um problema, por exemplo, do plástico. Há um dado muito interessante, apurado há muito tempo, que mostra que o homem europeu, nos últimos 40 anos, diminuiu em 50% sua produção de espermatozoides, basicamente por causa dos resíduos de plástico e de agrotóxicos.


Mundo Jovem: Como você vê a estrutura e a gestão da coleta seletiva e da reciclagem no Brasil?

Marcelo Pelizzoli: A administração pública estará sempre com ferro em brasa nas mãos enquanto não se implementar modelos de cidades sustentáveis, retorno a produções e comercialização locais. Reciclagem no Brasil basicamente depende das formiguinhas salvadoras, que são os catadores, as associações que tiram disso seu sustento.

Muitas pessoas não têm ideia de quão importante é esse trabalho, e o que elas jogam e como jogam (sujo ou limpo) fora seus resíduos. Tal como Freud denunciou o recalque das nossas sobras e sombras no inconsciente, a ecologia denuncia e faz de novo responsável o consumidor.

O lixo é nossa parte, faz parte dos alimentos e materiais. Deve ser integrado e não negado, esquecido, misturado. O ápice da dicotomia é o lixo atômico. Todo lixo é natureza - o problema é que alguns demoram milhares de anos para se incorporarem novamente de modo equilibrado. É muito importante que a sociedade se dê conta disso. Primeiro, é preciso reduzir a quantidade de produção de lixo. Segundo, é preciso separar, reciclar... Não custa lavar os plásticos, vidros, antes de colocar para a reciclagem. Mesmo a reciclagem, que vem depois da diminuição da produção de lixo, já contribui muito para a redução do aquecimento global, pois tudo está interconectado.

Mundo Jovem: Qual o papel da juventude para uma sociedade que gere menos lixo?

Marcelo Pelizzoli: A juventude revela a própria insatisfação como sintoma de algo em crise na atualidade. Porque os desafios que pesam sobre a juventude, sobre as crianças que vão ter que lidar mais adiante com isso, são enormes. O peso, a dívida que está sendo deixada, é enorme.

A juventude sempre teve esse papel de lançar gritos de alerta, de se rebelar contra situações. Aliás, a juventude está se rebelando o tempo inteiro, mas muitas vezes de forma negativa, com descontentamento geral, com uso de drogas... A crise humana é muito grande, não se fala aqui de crise econômica. E a juventude é a que mais sente esses problemas.

Acho importante aproveitar essa energia, essa garra da juventude, e canalizar, aplicar onde deve ser aplicada, ao boicote às grandes corporações. Aplicar para uma ressensibilização, uma retomada de consciência, criar novas formas de organização em grupo, de participação política, mas, fundamentalmente, tentar boicotar essa situação e criar uma nova configuração para a sociedade, já que os jovens são os que mais sofrem dentro dessa dimensão de inquietude.

Mundo Jovem: Que ações individuais e coletivas podem contribuir para uma menor produção de lixo?

Marcelo Pelizzoli: A organização social em condomínios ecológicos, ecovilas, comunidades rurais alternativas; a valorização das culturas locais e a descentralização dos recursos/atividades; a formação de modos cooperativados de consumo, de empreendimentos. Meu lixo orgânico, por exemplo, volta todo para a natureza, numa composteira. Em três meses ele vira adubo.

Ao optar por produtos orgânicos e ecológicos, diminui a poluição ambiental, valorizam-se as produções familiares e locais, diminuem problemas de trânsito e, principalmente, o aquecimento global. Não se tem todos os cálculos certos ainda sobre mudanças em sustentabilidade, mas quando chegarmos a 30% das pessoas adotando isso, a maior mudança civilizatória estará acontecendo.

Existem também as ações individuais, no sentido de ressensibilização para a questão. Se o adulto parar, olhar nos olhos de seus filhos e pensar no que está acontecendo hoje e como será daqui a 10, 20, 30 ou 40 anos, com este nível de poluição que está sendo lançado hoje, começará a se motivar, parar de usar plásticos, diminuir os descartáveis, a se preocuparem mais com a política num sentido pleno da palavra, até chegarem à reciclagem, que acho que é a última ponta da questão.

Educação ambiental: uma alternativa?


A educação ambiental é uma alternativa que parece não ter efeito. Isso acontece porque muita gente entende educação ambiental como verdismo, simplesmente passear em parques, visitar animais, promover e/ou participar de campanhas de separação de lixo. Mas isso é muito superficial. Isso é uma forma de separar a natureza em sua dimensão natural da sua dimensão interna. É como separar o mundo externo do mundo da sua própria casa, ou da instituição da escola. Então, educação ambiental é ressensibilização, tomada de consciência existencial, de como podem ser criados modos de ser, modos de vida, onde o cultivo das emoções positivas, dos valores, da vida simples, do que a nossa tradição herdou. Essas tradições eram sustentáveis em termos de alimentação, de medicação natural. Por exemplo, o que os índios nos legaram. Só que tomamos um rumo chamado progresso que nos levou a essa situação de crise.

A educação sempre tem que ser pensada em três níveis. Educação não é o mesmo que informação. A informação é apenas um ponto básico, mas não é o principal. A nossa educação às vezes é muito informativa, racionalista e técnica. Mas não ensina o indivíduo a viver, resgatar suas tradições, ser afetivo, expressar suas dores e alegrias. O outro nível é a educação como tomada de consciência. E aí vem a dimensão crítica, política, social e sensível, que é afetividade, educação estética. Se não for assim, não funciona muito bem. Estética aqui é no sentido da sensibilidade, da beleza. Depois vem o nível três: ação. Eu preciso da informação, da sensibilização, consciência para chegar ao nível de ação.

A educação ambiental deve focar o que as pessoas sentem, nos grupos, no encontro com o outro. E destas com o que se chama meio natural. É essencialmente uma questão existencial e social, não natural, não biológica. É uma percepção ampla que toca o sentido que o universo nos permite em cada momento, em cada situação: de dor ou de amor, como lidamos com a vida e sua ordem, suas leis.

Na sua obra vivencial fabulosa, Nossa vida como Gaia, J. Macy reflete que a educação, apenas como reprodução técnica e racional, produz uma sociedade de robotizados e de desenraizados do meio natural e dos saberes tradicionais, sustentáveis, locais. Por isso, o segundo nível deve ser a consciência crítica e a sensibilidade, para então contemplar o terceiro: o agir local para melhorar. Isso inclui uma educação relacional, emocional, afetiva, de valores. Isto é, integrar-se ao ambiente como um todo. A conexão com o ambiente vai junto com a conexão com nossa psique, com medos, dores, alegrias e amores.

Entrevista publicada na edição 397 de junho de 2009

fonte:educadorasantana

O Ministério Público Federal ingressou com ação civil pública ambiental bilionária , nesta segunda (01) contra 21 empresas da cadeia da pecuária e fri

A Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), juntamente com a Cerb, Ima e Ingá, autarquias da secretaria, promove uma série de ações para comemorar a Semana do Meio Ambiente. O pacote contará com mostra de filmes, exposição de fotografias, palestras, atividades culturais com estudantes da rede pública, assinatura de convênio com o Ministério do Meio Ambiente e o reconhecimento da primeira Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) no atual governo, dentre outros.

O ponto alto da Semana do Meio Ambiente será a realização do seminário nacional Nordeste: Água, Desenvolvimento e Sustentabilidade, que acontece na quinta e sexta-feiras (4 e 5), no Fiesta Bahia Hotel. Promovido pelo Ingá, o seminário será aberto pelo governador Jaques Wagner e vai tratar de assuntos como convivência com a seca, usos múltiplos das águas, sustentabilidade ambiental e desertificação. No primeiro dia, a programação será encerrada com um show do cantor baiano Lazzo Matumbi, do grupo As Ganhadeiras de Itapuã e do poeta e cordelista Maviael Melo.

A programação da semana será aberta nesta segunda-feira (1) com a exibição dos filmes Saneamento Básico, 14h e 19h, e Uma Verdade Inconveniente, 16h30, na sala Alexandre Robatto, nos Barris. Saneamento Básico mostra a luta de uma comunidade atrás de recursos para a realização de obras de esgotamento. Uma Verdade Inconveniente é um documentário do político norte-americano Al Gore, alertando a população mundial sobre o aquecimento global. A ação é uma parceria entre a Sema e a Secretaria da Cultura, por meio da Fundação Cultural do Estado (Funceb).

Na quinta-feira (4), em parceria com a Secretaria da Educação (SEC), acontece uma exposição fotográfica sobre as ações da Sema, além da apresentação do acervo da biblioteca do Instituto do Meio Ambiente (IMA) para os alunos da rede pública de ensino, no Parque da Cidade. Na oportunidade, os estudantes vão apresentar os projetos socioambientais de suas escolas. O evento acontece das 8h30 às 12h30.

Da próxima sexta-feira (5), Dia Mundial do Meio Ambiente, ao dia 14, fica em cartaz, no Shopping Paralela, uma exposição fotográfica sobre o meio ambiente. Serão expostas 30 fotos sobre as ações da Sema, Cerb, IMA e Ingá, juntamente com trabalhos do fotógrafo baiano Aristides Alves e do artista e ambientalista polonês, radicado na Bahia, Frans Krajcberg.

Consta ainda da programação da Semana do Meio Ambiente a assinatura de acordo de cooperação técnica entre o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e a Sema para a implementação de ações integradas no Programa de Revitalização da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e do Programa Velho Chico Vivo, ambos de revitalização do rio.

Outra ação importante será o reconhecimento, pelo Estado, da primeira Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Denominada Belas Artes, a reserva está localizada no município de Guaratinga, Extremo Sul, e é a primeira a ser reconhecida no atual governo. Com uma área de aproximadamente 35 hectares (equivalente a 35 campos de futebol), a Belas Artes vai ajudar na preservação do bioma Mata Atlântica na região.

Fonte: Agecom Ba

MPF abre ação ambiental de R$ 2 Bilhões contra empresas

O Ministério Público Federal ingressou com ação civil pública ambiental bilionária , nesta segunda (01) contra 21 empresas da cadeia da pecuária e frigoríficos. A acusação é pela devastação de 157 mil hectares de floresta amazônica no sul do Pará para criação e venda de gado. O MPF cobra indenização de R$ 2,1 bilhões por danos ambientais. Outras 69 empresas que compraram os subprodutos dos frigoríficos, como Carrefour, Wal Mart, Bompreço e Pão de Açúcar, receberam notificações em que são informadas oficialmente da compra de insumos obtidos com desmatamento ilegal. Entre os frigoríficos processados está um dos maiores do Brasil, a Bertin S.A, que segundo o MPF comprou gado de fazendas multadas pelo IBAMA; e de uma fazenda localizada dentro de reserva indígena. Entre as propriedades irregulares, nove pertencem a agropecuária Santa Bárbara, da empresária Verônica Dantas Rodenburg, irmã do presidente do Grupo Opportunity, Daniel Dantas.


fonte:educadorasantana