terça-feira, 24 de março de 2009

Entrevista: Lula promete construção de ferrovia no estado

Oscar Valporto / Redação CORREIO | Fotos: ABR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega nesta segunda-feira (23) a Salvador para uma visita de dois dias. Lula, que vai ficar hospedado no Bahia Otton, em Ondina, chega à capital baiana uma semana após a divulgação de pesquisas que mostram queda de sua popularidade. Segundo o Datafolha, a aprovação do presidente caiu de 70%, em novembro de 2008, para 65% em março.

Pesquisa CNI/Ibope mostra que a popularidade de Lula diminuiu de 73%, em dezembro, para 64%, neste mês. Em entrevista exclusiva ao CORREIO, Lula garante o início da construção da Ferrovia Oeste-Leste para agosto deste ano, sendo que os dois primeiros trechos serão executados na Bahia, ligando Ilhéus a Barreiras, passando por Caetité.



Em relação ao metrô, o presidente lava as mãos: diz que os recursos estão à disposição e que a responsabilidade em entregar a obra é da prefeitura. No campo político, o presidente acredita que a união entre o seu partido, o PT, e o PMDB, do ministro Geddel Vieira Lima, vai ser mantida em 2010, para tentar a reeleição do governador Jaques Wagner.

Quando a Ferrovia Oeste- Leste foi anunciada, em 2007, a expectativa era de que o primeiro trecho seria entregue até o fim de 2009. A obra, de importância estratégica para a Bahia, sofreu atrasos e agora o começo está previsto para junho de 2009 e a entrega do primeiro trecho, para 2011. O governo confirma o começo das obras para junho e a entrega do primeiro trecho para 2011? A crise pode ter algum impacto na construção da ferrovia?

A Ferrovia de Integração Oeste- Leste, com a extensão de 1.500 km, ligando Figueirópolis, em Tocantins, a Ilhéus, na Bahia, foi planejada para ser construída com capitais públicos e privados. Como nesse momento as empresas privadas estão com certa dificuldade de captar financiamento, determinei à Valec, do Ministério dos Transportes, que assumisse o empreendimento. Para viabilizar, estamos nos antecipando e utilizando recursos públicos que seriam desembolsados somente no segundo semestre.

Depois da elaboração dos projetos básicos, do Estudo e do Relatório de Impacto Ambiental neste primeiro semestre, vamos publicar em junho os editais de licitação e dar início, em agosto, às obras dos dois primeiros trechos,ambos situados na Bahia: Ilhéus-Caetité e Caetité-Barreiras, com extensão total de 972km. Quanto ao leilão de subconcessão, decidimos realizar no momento mais favorável, quando houver maior número de competidores, o que será vantajoso para os cofres públicos.

Em sua última visita à Bahia, o senhor chegou a cobrar do prefeito João Henrique a conclusão das obras do metrô, cujo primeiro trecho tinha previsão de entrega para junho de 2009, após vários adiamentos. A nova previsão de entrega é janeiro de 2010. Como o senhor avalia esses atrasos na construção do metrô de Salvador, já que, como o senhor mesmo frisou, as verbas federais estão à disposição? As falhas e irregularidades apontadas pelo TCU devem ser debitadas aos empreiteiros ou à prefeitura?

O metrô de Salvador estava planejado para ser concluído em 2003, mesmo ano em que assumi a Presidência. No entanto, a obra enfrentava dificuldades por causa dos constantes contingenciamentos de recursos. Uma das primeiras medidas que adotamos foi colocar parte do empreendimento no Projeto Piloto de Investimentos, o que garantiu parte dos recursos e, em 2007, incluímos a obra no PAC, ou seja, a partir daí todos os recursos tornaram-se plenamente assegurados. Com essas iniciativas, nós fizemos a nossa parte, o que mostra nosso compromisso com o metrô de Salvador.

A empresa municipal CTS é a responsável pela execução do empreendimento e tem contrato firmado com um consórcio para a execução das obras. No período de dez anos, houve a necessidade de reelaboração do projeto básico e mudanças ocasionadas pelo próprio passar do tempo (traçado da cidade, métodos construtivos, etc.) em relação à licitação. Houve também questionamentos do TCU, mas, a partir do final do ano passado, o consórcio concordou em dar continuidade às obras em ritmo normal e concluir as obras do trecho Lapa-Acesso Norte até outubro deste ano.

A política baiana tem assistido, desde a campanha eleitoral do ano passado, a tensões entre os dois maiores partidos de sustentação de seu governo, o PT e o PMDB, e entre seus principais líderes, o governador Jaques Wagner e o ministro Geddel Vieira Lima. O senhor acredita que a aliança entre PT e PMDB na Bahia será mantida nas eleições de 2010? Em que medida um rompimento entre PT e PMDB no estado pode afetar as iniciativas do governo federal na Bahia e a representação baiana no governo Lula?

Uma resolução recente do Diretório Estadual do PT defende a manutenção da aliança nacional e da aliança estadual com o PMDB que, aliás, comanda duas secretarias no governo baiano. O PT da Bahia decidiu também que vai lançar Jaques Wagner à reeleição e negociar as candidaturas a vice-governador e as duas ao Senado, com o PMDB e outros partidos.

É natural que no processo de construção da unidade haja momentos de tensão, mas eu estou convencido de que os companheiros do PT e do PMDB vão repetir no plano estadual o mesmo entendimento que existe no plano federal.




As desigualdades regionais têm sido tema constante de debates do governo e estarão, nessa terça-feira, no centro da discussão do encontro do senhor comos governadores nordestinos. Quais as medidas efetivas que o governo federal está tomando e irá tomar para reduzir as desigualdades? O ques erá exigido dos governadores?

Segundo o Ipea, em relação à redução da pobreza, o Brasil fez em cinco anos mais do que o restante da América Latina levou15 anos para fazer.O número de pessoas pobres diminuiu em todas as regiões, sobretudo onde a pobreza era maior. Além de estarmos beneficiando populações de regiões tradicionalmente esquecidas pelo poder público, estamos direcionando grandes empreendimentos também para essas regiões - são estaleiros, refinarias, ferrovias, hidrelétricas, muitos dos quais, em outros governos seriam implantados em estados do centro-sul do país, aumentando as desigualdades. Mas as diferenças regionais ainda são grandes, motivo pelo qual construímos com os governadores do Nordeste, o “compromisso para acelerar a redução das desigualdades regionais”.

Esse “compromisso” tem por princípio fortalecer pactos já existentes, além de apoiar a articulação das ações com os estados e municípios. Para isso, escolhemos as questões que causam mais impacto sobre a qualidade de vida das populações: redução do analfabetismo, redução da mortalidade infantil, erradicação do sub-registro civil e fortalecimento da agricultura familiar. Vamos trabalhar em parceria, de mãos dadas, sem levar em conta as diferenças partidárias, para que tenhamos um país cada vez menos desigual e mais humano.

O PIB do Brasil levou um tombo, as previsões de crescimento encolheram e economistas dizem que o pior da crise econômica mundial ainda está por vir. O senhor ainda é otimista? Como o senhor acha que a economia vai se recuperar ainda em 2009 para que o PIB cresça acima de 4%? O que precisa ser feito no Brasil para minimizar os efeitos da crise?

Nós temos plenas condições de enfrentar esse período de turbulências porque nossa economia é um edifício que se apoia em fundações muito sólidas. Temos um volume de reservas em torno de US$200 bilhões, que não foi abalado com a chegada da crise; somos grandes exportadores de alimentos, que nenhum país pode deixar de comprar; ao contrário de outros países, nosso sistema bancário é saudável; nossos bancos estatais estão fortes e atuando na oferta de crédito, promovendo uma política anticíclica; nosso mercado interno se fortaleceu muito, sobretudo com a entrada de 20 milhões de pessoas na classe média; enquanto nos EUA, a dívida pública representa 70% do PIB, no Brasil, a dívida caiu para apenas 35%; temos abundância de energia de várias modalidades, tanto de fontes não-renováveis quanto de fontes renováveis,e dominamos as tecnologias de exploração; além de vários outros dados positivos.

Em nenhum outro período da história, nosso país contou com mais condições para superar uma crise econômica. E os últimos indicadores conjunturais também são motivo de satisfação para todos nós. Em fevereiro, o emprego voltou a subir - o saldo positivo foi de mais de nove mil empregos com carteira assinada. Outro indicador importantíssimo foi divulgado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS): o consumo de energia, que revela o nível de atividade empresarial, subiu 0,7%.

Ou seja, as medidas que adotamos para combater a crise já começam a surtir efeito, e estamos adotando várias outras, como é o caso do plano de construção de um milhão de moradias. Sem contar que, ao contrário de boa parte dos países, em que os juros já estão beirando 0%, nós ainda temos muita gordura para queimar e, com isso, estimular a retomada do desenvolvimento. Sobre as previsões de crescimento para este ano, estou convencido de que será positivo e posso garantir que vamos trabalhar seriamente para que seja o maior possível.

(Entrevista publicada na edição impressa do CORREIO de 23 de março de 2009)